"Ao contrário do que muitos possam pensar, anestesiar um doente não é pô-lo a dormir. Em vez disso, trata-se, na verdade, de privar o doente da consciência, tirar a dor e manter o seu corpo seguro. Tal acontece através da administração de fármacos e recorrendo a instrumentos mecânicos e guiados por monitores tecnologicamente desenvolvidos. Desta forma, garante-se o normal funcionamento dos seus órgãos. Os fármacos administrados têm a capacidade de atuar em áreas muito específicas do cérebro, de modo a desligá-las e a ativá-las, consoante se pretenda anestesiar ou 'acordar' o doente", explica Ricardo Pereira , médico anestesiologista no Hospital da Luz, em Lisboa.
Foi a 16 de outubro de 1846 que foi administrada a primeira anestesia, em Boston, nos Estados Unidos da América.
Desde então, são muitos os avanços desta área, que se dedica à manutenção do equilíbrio do organismo afetado pelo stress cirúrgico, através de uma monitorização adequada e do controlo da dor aguda e crónica.
Mas há muitas questões que os doentes colocam. Uma das mais frequentes é relativa ao acordar da anestesia, que causa alguma apreensão a quem é submetido a uma intervenção cirúrgica. Na verdade, este momento decorre de uma forma relativamente simples, eliminando-se os fármacos que provocam a inconsciência, o sono profundo e a imobilização muscular. Para tal, existem terapêuticas específicas para que este processo seja facilitado, como os Agentes Reversores de Bloqueio Neuromuscular, que permitem acelerar a recuperação e evitar possíveis efeitos secundários.
Em conversa com o Lifestyle ao Minuto, o médico Ricardo Pereira elucida todo o processo que envolve a anestesia e explica como o procedimento afeta os doentes antes, durante e depois da intervenção cirúrgica.
O que é a anestesiologia?
Anestesiologia é a especialidade médica dedicada à medicina do perioperatório. É responsável pelo controlo da dor aguda e crónica e ainda a especialidade vocacionada para a abordagem ao doente emergente e em estado crítico. Os anestesiologistas têm uma atuação muito abrangente nos diversos domínios da medicina, estando presentes tanto no ambiente hospitalar, como no pré-hospitalar.
Que tipos de anestesia existem?
Quando falamos de anestesia, falamos de um conjunto vasto de técnicas que vão desde a sedação, a anestesia geral (endovenosa, inalatória, ou balanceada), e passando pelas técnicas de anestesia loco-regional que revolucionaram o controlo da dor. Neste caso, existem as técnicas do neuro-eixo (epidurais, sub-aracnoideias e sequenciais) e as técnicas de bloqueios de nervos periféricos (em que nervos específicos são bloqueados, nomeadamente através de visualização por ecografia).
Em vez de culpada, a anestesia é parte importante na proteção da memória dos doentesEm que situações se aplicam?
As técnicas loco-regionais trouxeram um conjunto vasto de vantagens para o doente não só no controlo da dor, mas também como técnica anestésica, contribuindo para a diminuição da ocorrência de complicações cardíacas, pulmonares e cerebrais. No entanto, só são adequadas em determinados tipos de cirurgias como as cirurgias dos membros (superiores e inferiores) e abdominais inferiores (como, por exemplo, as analgesias do trabalho de parto, cesarianas, entre outras). A anestesia geral permite a realização de qualquer tipo de procedimento, para qualquer tipo de doente, estando o doente privado de consciência.
Quando deve ocorrer a consulta de anestesiologia?
Idealmente, todos os doentes com indicação para a realização de um procedimento cirúrgico que obrigue a aplicação de uma técnica anestésica deverão ser observados em consulta de anestesiologia. Esse é o momento ideal para a avaliação do risco associado a cada doente, o momento para que se estabeleça uma relação de confiança e de empatia entre o doente e o anestesiologista. Dados os receios e a ansiedade ainda existentes na população relativamente à anestesia, a consulta de anestesiologia deverá ser o espaço perfeito para que o doente coloque todas as questões que tem e obter todas as informações importantes de que necessita.
Ao contrário do que muitos possam pensar, anestesiar um doente não é pô-lo a dormir. Em vez disso, trata-se, na verdade, de privar o doente da consciência, tirar a dor e manter o seu corpo seguroQuais os riscos e efeitos secundários associados à anestesia?
A anestesiologia evoluiu bastante nas últimas décadas tanto no conhecimento, como nos meios tecnológicos que tem ao seu dispor. Assim, e adequando para cada doente a sua estratégia anestésica, foi possível diminuir drasticamente as complicações associadas à anestesia. No entanto, cada doente e cada procedimento estão associados a riscos específicos que seriam difícil de enumerar neste contexto.
Um problema que preocupa os doentes, e que é fonte constante de perguntas nas consultas de anestesiologia, prende-se com as alterações de memória e das capacidades cognitivas dos doentes após uma cirurgia. O que os estudos mostram de forma mais ou menos conclusiva é que estas alterações são transitórias e muito associadas ao doente. Assim, em vez de culpada, a anestesia é parte importante na proteção da memória dos doentes.
Como se processa?
Ao contrário do que muitos possam pensar, anestesiar um doente não é pô-lo a dormir. Em vez disso, trata-se, na verdade, de privar o doente da consciência, tirar a dor e manter o seu corpo seguro. Tal acontece através da administração de fármacos e recorrendo a instrumentos mecânicos e guiados por monitores tecnologicamente desenvolvidos. Desta forma, garante-se o normal funcionamento dos seus órgãos. Os fármacos administrados têm a capacidade de atuar em áreas muito específicas do cérebro, de modo a desligá-las e a ativá-las, consoante se pretenda anestesiar ou 'acordar' o doente.
Qual é o processo que ocorre no corpo quando se acorda após uma anestesia?
Assim que termina a necessidade de se manter um doente anestesiado, ou seja, quando termina um procedimento cirúrgico, os fármacos que mantiveram o doente anestesiado são interrompidos. Os tais fármacos que têm a capacidade de 'desligar' determinados recetores no cérebro, ao deixarem de atuar nesses locais, permitem que eles voltem a funcionar normalmente e isso leva a que o doente comece a 'despertar'. Geralmente, o doente vai recuperando gradualmente as suas funções básicas como a capacidade de respirar por si, de contrair os músculos e, por fim, a consciência. É um processo relativamente rápido e absolutamente controlado pelo anestesiologista, que está sempre perto do doente.
O grande desafio do futuro da anestesiologia será garantir que a pessoa que sai do hospital após um procedimento cirúrgico permaneça exatamente a mesma que entrouO que são os bloqueadores neuromusculares e os agentes reversores do bloqueio?
Os bloqueadores musculares são fármacos usados na anestesia geral que proporcionam melhores condições cirúrgicas. Atuam diretamente na placa neuromuscular, que é o local nos músculos que permite que estes contraiam e que funcionem normalmente. Para que uma pessoa consiga mexer um braço para apanhar uma caneta, ou uma perna para dar um passo, tem de conseguir que, nessas placas neuromusculares, ocorra uma ligação que funciona como a ignição de um motor de um carro.
O que os bloqueadores neuromusculares fazem é impedir que essa 'ignição' ocorra e o músculo contraia. Apesar de poder parecer estranho, esse bloqueio é uma condição importante para que um doente seja operado de forma segura e eficaz. Contudo, no final da cirurgia, queremos que os doentes voltem a respirar por si, e que voltem ao seu estado normal. É aqui que os agentes reversores do bloqueio entram. Existe, neste momento, à nossa disposição um fármaco reversor específico e muito seguro que permite reverter o efeito dos bloqueadores de forma muito eficaz com evidente vantagem para a segurança dos doentes.
Qual é o futuro da anestesia? Que inovações se esperam?
A especialidade de anestesiologia evoluiu muito desde os seus primeiros passos (1846), que hoje celebramos, passando por várias etapas e ultrapassando obstáculos, com a superação de desafios até se tornar na especialidade vasta e empolgante que é atualmente. Conseguimos reduzir drasticamente a taxa de mortalidade e de complicações associadas ao período intra-operatório, conseguimos inclusivamente perceber com exatidão como funcionam os vários órgãos, como o coração, os pulmões, os rins, etc., de modo a conseguir protegê-los.
Porém, aquilo que ainda nos falta compreender em profundidade é como funciona o cérebro. Daí que o grande desafio para o futuro da anestesiologia seja a proteção do cérebro, órgão primus inter pares e que nos caracteriza enquanto indivíduos. Penso que, no futuro, vamos ter mais formas de monitorizar a função cerebral e ter à nossa disposição outras estratégicas que nos permitirão proteger ainda mais o cérebro.
Penso sobretudo nas franjas cada vez mais envelhecidas da população que trarão desafios importantes para a anestesiologia do futuro e que obrigarão a uma resposta ainda mais exigente. Dado que aquilo que nos caracteriza como seres humanos é a nossa capacidade intelectual, a nossa personalidade e as nossas memórias, o grande desafio do futuro da anestesiologia será garantir que a pessoa que sai do hospital após um procedimento cirúrgico permaneça exatamente a mesma que entrou.
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